quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Eu nunca lhe contei; mas sim, eu já lhe traí. Uma, duas, três, quatro, e dezenas de vezes. E tal como disse Arnaldo Jabor, a Suzane von Ritchthofen matou os pais na tentativa de sentir alguma culpa através de tamanha atrocidade. E eu, meu amor, te traí pra ver se assim eu me traía, pra tentar mostrar a mim mesma que havia em mim algum resquício de amor próprio, algo de especular que me fizesse capaz de viver sem você, longe da tua sombra. Eu queria ser suficientemente minha para que então te entregasse o melhor de mim, e assim eu seria integralmente tua.
E cada homem que se deitou em nossa cama, eu rezava pra sentir alguma coisa; repulsa, vergonha, nojo, desprazer. Queria poder ver na face alheia as tuas feições tão bonitas, e então sentir saudade ou qualquer coisa do gênero. Mas não, eu não presto, eu não presto. E gostei, e gozei. E nesse pecado do adultério fui te amando cada vez mais, e quanto mais eu me afastava de você nesse sacrilégio, mais eu te idolatrava, e te santificava; e me certificava de que não, longe de você não havia vida, havia somente um corpo nu, um aventura noturna, um desejo, uma demanda.
Mas com você, meu amor; eu podia viver, e criar um mundo todo novo com suas mentiras tão sinceras, tomando todo o cuidado do mundo para que eu acreditasse na leviandade de um sentimento teu. Eu te amo, eu te amo, e preciso que você saiba que sim, que eu te traí, e que por isso mesmo eu te amo ainda mais, por saber que você está acima de tudo isso, acima de qualquer capricho ou vaidade.
E o que significa confiança perto desse tanto de amor que eu sinto por você, minha vida? É indubitável, irrefutável essa certeza de que eu serei somente tua, mesmo com tantos homens penetrando os meus vazios, mesmo com tantos corpos habitando a minha cama por uma noite ou duas.
E acho inclusive que o fato de eu me portar tal como uma cortesã barata, lhe é útil para que no fim de cada noite, eu tenha a sensação de que você ocupa um locus intransponível, insubstituível na minha cama, na minha casa, na minha vida, nesse mundo tão delicado que eu criei para vivermos em paz.
E se algum dia você errou, repito Nelson Rodrigues : "Perdoa-me por me traíres", meu bem.

4 comentários:

  1. Olhar poético sobre um tema complexo! Adorei seu texto pois não se prendeu a meros clichês, apresentou uma visão nova, e totalmente plausível da maneira como vc colocou os fatos. Gostei dos seus contos, seguirei seu blog, bjos!

    ResponderExcluir
  2. Adooooorei seu blog! Jah estou seguindo!
    BjOo

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. -
    sinceridade a flor da pele, ai

    beijos, dona moça

    =)

    .

    ResponderExcluir