segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ainda lembro de como você ficava lindo com aquela camisa branca; e até hoje ao chegar em casa procuro o teu carro em frente ao meu portão.
Já faz uns cinco meses e eu ainda não admiti a sua partida. E é como se eu precisasse continuar vivendo com o teu fantasma ao me lado.
Eu teria te amado tanto, se você permitisse; e teria me feito muito feliz saber que embora mal-amada; era a mim que você tinha. No entanto, entre os nossos tantos entretantos; você foi e eu fiz questão de permanecer aqui; esperando você aparecer todo lindo de novo com a sua camisa branca, rabiscando os papéis, colorindo a minha casa toda de saudade, extirpando de mim cada pedacinho de amor que eu poderia sentir.
Já faz tempo, eu sei; mas toda vez que eu chego em casa eu procuro o teu carro, e quero correr pros teus braços pra ouvir o tumulto que o teu silêncio faz em mim.E ainda espero você me ligar de novo, e fico procurando a tua casa por essas ruas que eu passo todo dia; eu preciso respirar a tua presença amor.
Não demora eu esbarro com você de novo por aí, e tento pensar em trivialidades para lhe falar, meu grande amor. "Tá sumido,hein!"; "Quanto tempo!"; "E o trabalho?". Euquerodizerqueteamo; e que estou me rasgando inteira de saudade, e repetir compulsivamente todos os clichês do mundo até você entender que eu preciso de você, minha vida.
Ontem eu fiquei pensando na volubilidade de tudo isso que nos atingiu antes de você perceber que nós dois havíamos nos tornado nósdois. Havíamos, e havíamos o que nunca houve; e como nunca houvera outrora. O que é que há em você que não me deixa sair daqui, meu pequeno? Me diz como proceder sem a tua rigidez inflexível; sem a tua frieza mordaz? Não há lugar sem você.
Debaixo do teu braço, entre as tuas pernas,teuórgãonomeu, debaixo das nossas cobertas, muito logne do teu coração?
E como é que eu pude ir tão longe sem você?!

domingo, 25 de outubro de 2009

E foi entre martinis e cigarros de menta que eu tentei não me dar conta do mal que você meu causou. Foi tentando não te ver que mais uma vez eu te achei; foi tentando ser eu que eu fui você.
e eu sabia que uma infinidade de coisas separariam você de mim, não que eu não quisesse, mas sim pelo fato de você ser muito seu para que pudesse ser meu. E de repente te encontrar assim, sem aviso prévio, meu causou o caos; e em alguns segundos eu tive que rever toda a minha história tendo você como protagonista dessa tragédia doce e cruel.
Onde é que eu estava enquanto você invadia a minha vida e tomava conta de mim? Onde foi que eu me perdi que não percebi que cada vez mais eu te engolia, te devorava e não te deixava ir embora?
Falamos coisas que não deveriam ser ditas, e fizemos coisas que só foram legitimadas no vão da nossa incompreesão, no abismo desse descompasso de sentir. E eu queria tanto, tanto, mas tanto, amor; que não pude ver que você se dissipava em gotas de ausência.
E ali, duas da manhã naquele inferno eu tive que suportar a sua suportabilidade, e tive que te conceber de outra forma, e dessa forma, minha vida; você já era um grande outro que me deixava sem chão, sem caminho algum a seguir. E naquele instante eu precisei tanto de você, que se você soubesse talvez nem se assustasse mais. Eu sei que já faz muito tempo e que uma enxurrada de acontecimentos atropelou a nossa esperança, mas me diz se já é tarde; me diz que já é tarde.
Luz, fumaça, som e álcool; e você ali. Corpos, copos, vidro, e você ainda ali. Vertigem, sono e saudade, e você ali. Vem pro meu lado, e deixa eu te contar as histórias que eu escrevi pra nós dois, acredita em mim, amor; e me diz que mesmo depois de tanto tempo, ainda há tempo.
Houve, haveria, haverá. Essa maré insiste em encher e você volta de repente, de ressaca, cansado e procura a minha paz, e tira a minha paz, e vai embora de novo. Fica mais um pouco, vou fazer um café e ouvir você dizer todas essas coisas sem valor; mas só espera eu tirar essa roupa molhada, ainda é cedo amor, e sim, eu tô morrendo de saudade.
Ontem eu passei em frente à sua casa e quis desesperadamente subir, bater na sua porta, invadir a sua casa e pedir pra que você me devolvesse tudo aquilo que um dia tão docemente eu te dei. Eu queria te dizer tanta coisa, meu amor. Queria mesmo era que você pudesse entender que não foi por você, foi por mim; e que se eu não tivesse te amado tanto, as coisas não teriam chegado a esse ponto.
Eu queria que você me dissesse em que momento do caminho a gente se separou, em que instante nós deixamos de ser nós. E como é que tanto sonho se despedaçou em saudade, onde foi que eu deslizei e me perdi no caminho que havia trilhado pra chegar até você; eu me perdi, amor.
Eu sinto tanta falta, e eu sei que já faz muito tempo, eu sei que ainda dá tempo. Mas agora já é tarde, já passam das 3 da manhã, e depois de muito tempo parada em frente ao seu prédio, eu resolvi ir embora. Resolvi deixar você pra trás, e me proporcionar o prazer de saber que pelo menos naquele instante eu fiz sim a coisa certa.
Ou não, talvez eu devesse ter entrado, te pedido desculpas pelas coisas que eu nunca fiz, só pra te ver sorrir mais uma vez, e ia te pedir pra dormir comigo mais uma vez, ou pra pelo menos ficar ali comigo até eu adormecer. Eu sei que pedindo com jeitinho, você não hesitaria.
Mas eu já cruzei a esquina, e já te deixei pra trás. Talvez na volta, quando eu passar aqui de novo, eu tenha coragem, talvez eu perca a vontade, talvez eu precise mais do que agora, talvez você já não esteja mais lá. Eu sei, eu sei, já está tarde e eu devo ir pra casa, e mais uma vez eu deixo perdido nos ralos isso tudo que não encontrou lugar pra repousar; e enquanto isso você faz festa dentro de mim, e vai passeando nas minhas fraquezas pra se certificar sempre que depois de você, os outros são os outros e só.
Tenho ouvido uma mesma música compulsivamente todos os dias: "Eu espero", da Luiza Possi.
"...vai sim, vai ser sempre assim;a sua falta vai me incomodar" E eu ainda não sei se o que me incomoda mais é a tua falta ou a tua presença. Eu sinto falta, amor; e espero. E te ver assim bem relapsamente em meio à multidão é desconcertante, é angustiante saber que ontem mesmo você estava ali, ao meu lado; saber que um dia você foi o meu plano, o meu referencial. E sem você eu tive que aprender a nascer de novo, e enxergar o mundo todo por uma perspectiva menos infantil.
E hoje o que é que eu faço com essa sua presença que me invade e não me pede permissão? O que é que eu faço com esse resquício de você que ainda está latente em mim, e que mesmo que eu quisesse, eu sei que você não vai embora. Tudo nessa casa lembra você, tudo nessa cidade lembra você. E nesse exacto momento eu penso em como é que eu me deixei guiar até você, em que instante eu resolvi que você seria aquilo que um dia você foi.
Ah minha vida, se você soubesse..mas já faz tanto tempo que não importa mais. Eu é que tenho que me haver com essa cratera imensa que se abre em mim quando você chega; ou então com o tanto de lembrança que eu preencho os espaços quando é de saudade que eu me alimento. Mas de uma forma ou de outra, ainda existe você, esse fantasma que não vai embora nunca. Como é que faço pra te mostrar a porta de saída dessa casa toda desenhada pra você?

sábado, 17 de outubro de 2009

Hoje eu pensei muito em você; e de uma forma bem peculiar. Hoje eu pude ver nitidamente como é que você me desvirtuou do meu caminho, e foi andando do teu lado que eu me perdi, e não pude perceber que andando do teu lado eu deixei você ir, e não percebi. Talvez tenha sido andando do teu lado mesmo, que eu não pude ver, que o tempo todo você estava do outro lado da rua. Mas eu quis tanto a tua presença, amor; que eu precisei que você estivesse ali, do meu lado.
E eu vi então uma história toda recortada, onde eu tive todo o cuidado de não deixar que nada se perdesse nesse turbilhão de amor, rancor e distância. Foi um tempo perdido, amor.
E eu não sei como voltar pra onde eu estava antes de você. Eu quis tanto acreditar nessa aventura, e não medi esforços para fazer de você um lugar seguro. E em toda a sua potência, eu podia finalmente repousar minha insegurança, podia solenemente te responsabilizar por mim, e te entregar sem medo nem nada toda a minha vida. E agora o que eu faço sem você?
Faz tanto tempo, e eu não sei por que você ainda permanece tão vivo em mim. E de todos, você não foi o melhor, e talvez se fosse em outras circunstâncias, eu nem tivesse te escolhido pra te amar. Mas tudo foi acontecendo e eu deixei as rédeas da minha vida e mergulhei numa fantasia toda nossa, mas você nunca esteve ali, meu amor. Como é que você pôde ir embora assim,?
Você chegou sem que eu pedisse e desmoronou tudo que havia sido construído antes de você. E agora eu preciso muito da minha vida, preciso muito não lembrar de tudo isso que eu não esqueço.
Mas eu sinto falta; e quando você puder, vê se volta.
e eu me pergunto o que é que eu tenho feito com a minha vida. Enclausurada em livros e música; encapsulada nesse berço esplêndido de poesia barata, de literatura moderna.
Eu queria mesmo era saber o que eu espero dessa vida que me deram; desse presente que eu não pedi, e que eu não canso de me deleitar, e de sorver cada minuto de ácida alegria, cada gota mágica de felicidade.
Realmente tenho pensado muito no que eu quero e no que eu poderia ser se quisesse menos; se eu não desejasse tanto, se essa lascívia de viver e de querer não me perturbasse tanto. Eu queria a paz dos dias calmos, o silêncio da casa da praia, o sol de fim de tarde do meu jardim. Mas eu vivo perambulando por aí procurando não me ver no rosto das faces alheias, voando alto, e sempre sem limite. Eu quero muito, e isso é pouco demais pra mim.
Ainda é cedo, e ainda tem muita noite pra atravessar em claro; ainda há muito o que escrever. Eu queria mesmo era não escrever, e ver como é que meu corpo suportaria tanto sentir. Queria saber o que é que as minhas mãos fariam se não massageassem as palavras; o que é que os meus olhos olhariam se não chorassem as frases.
Acho que estamos quase no verão, e geralmente faz aquele tempinho gostoso de sol no céu e ventinho gelado no rosto; o que passa a ligeira impressão de bem estar. E por detrás desse clima tão limpo, escondemos nossas fraquezas no dia-a-dia de cada dia; e nos esforçamos para não parecermos fracos demais, ingênuos demais, prolixos demais, humanos demais. E nos fantasiamos todos de gesso e concreto, e seguimos ilesos nosso caminho nessa vida podre sem poesia.
Ainda há tempo, eu sei que há. Eu quero tanta coisa da vida.. E mesmo que eu quisesse tanto assim, não posso me despir desse veludo quente que me protege desse zunido urbano; não posso me desapegar desse alter ego que me olha tão sisudamente do espelho.
O mundo é bão, Sebastião. É sim, eu sei que é; mas poesia, poesia meu bem, é só pra quem tem coragem de ir além.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Inevitável procurar saber da sua vida, clandestinamente tentar apreender qualquer informação sobre você. Saber como você vive sem mim faz com que eu não deixe a saudade passar.
Vi que você voltou a usar o anel que eu tanto gostava, e que deixou o cabelo crescer, como eu tanto pedia. Continua fumando, o que na verdade não me incomoda, nem nunca incomodou.
O que me incomoda é esse espaço imenso entre nós dois que não encurta em momentos como esses, em que eu faria tudo pra te ver de novo e te dizer pessoalmente tudo isso. Mas aí depois eu esqueço tudo isso, te dou um abraço forte e cheio de amor, e habitamos por algumas horas o mesmo ambiente, sem lembrar que um dia dividimos a mesma cama, a mesma casa, os mesmos segredos que jamais contaremos a ninguém.
Eu sei que em muitos aspectos eu falhei, e jamais o faria se não te amasse tanto. Sei também que você jamais compreenderá qualquer coisa que eu possa te dizer. Mas agora, enquanto te vejo todo seu do outro lado da rua, eu preciso segurar tua mão de novo e de ver em silêncio olhando para mim, sem encontrar palavras pra me ferir todinha de amor.
Talvez você pudesse de facto ser somento alguém do outro lado da rua, se você ainda não estivesse tão vivo dentro de mim. Latente, veemente. Mas eu fiz questão de te guardar, amor. Te guardar a sete chaves para que eu não me esqueça nunca que durante meses, eu fui sua. Toda sua, cada pedacinho de mim. Durante meses, você tentou não ser meu, e embora me desviasse o olhar e soltasse a minha mão e não me abraçasse no meio da noite; embora você tentasse parecer tão seu, você era demasiadamente meu para permanecer ali.
E assim como eu, era clandestinamente que você me pertencia, você não podia saber que era meu, e eu fingia que você de facto não era, só para não te desagradar. Mas toda noite eu dormia feliz por saber que mesmo que de canto de olho, você me olhou diferente, e me enviou um pouquinho de amor.
Mas agora, você é só uma saudade; materializado do outro lado da rua, com o cabelo crescido e o anel no dedo médio. E em segredo eu te direi, bem baixinho pra ninguém ouvir : eu sinto muito a sua falta, amor.
Hoje eu estive naquele mesmo lugar, dessa vez sem você. E lhe confesso, amor; que é bem desconcertante voltar à nossa antiga casa e respirar cada pedacinho procurando o teu perfume. E eu lembrei de uma centena de cenas que se passaram ali, do meu drama e da tua aventura; do meu romance e do teu terror; do meu jazz e do teu rock. E reviver essa história toda de novo foi bem avassalador.
Esperei que você chegasse, para que resolvêssemos o que haveríamos de fazer com aquele apartamento, que um dia abrigou uma vida que foi nossa. E seria um tanto quanto injusto presenciar outra pessoa com as declarações de amor que você me rabiscou no espelho, e com a parede pintada a quatro mãos naquele noite de bebedeira.
Construímos cada milímetro dessa jaula que por muitas vezes nos impediu de fugir, cada centímetro dessa incubadora que nos abrigou. E de muito afeto e calor, essas paredes formaram um lar. Eu fumava um cigarro na varanda enquanto esperava você chegar, e aquele cigarro durou dias. Havia um quadro inerte à minha frente: a vizinha não mudara o jarro de orquídea do lugar, as duas crianças ainda brincavam na piscina no domingo de manhã, o pátio ainda alagava nos dias de chuva, o vizinho de cima ainda ouvia ópera às 10 da manhã.
Em meio à essa estagnação tão rígida e concreta, o que é que em nós mudou? O que fez com que nós nos afastássemos tanto, meu amor? A ponto de estarmos aqui, a decidir o que faremos com a nossa vida. O que eu ainda posso guardar disso tudo que restou? O sofá, os móveis de cozinha, e as coisas do escritório. A televisão, o carro, as jóias. As ações na empresa, 25% do salário, a estante de mogno.
E os dias que deixamos para trás? E as promessas que não nos demos ao luxo de cumprir? E a vida que imaginávamos viver? Onde foi que deixamos todo esse amor escapar por entre um cotidiano tão iluminado nesse duplex?
Aqui parada nessa sala já vazia, me lembrei de fumar escondido nessa mesma varanda, morrendo de medo de você chegar mais cedo; e depois te abraçar de saudade, de vontade, de paixão; precisar ter você por perto para dar sentido à tudo isso. E te esconder as minhas rasuras, te exibir minhas doçuras. Onde foi que a gente se perdeu, minha vida? Onde foi que a gente perdeu a nossa vida?
"Até que a morte nos separe, amém" ; e a morte chegou antes que pudéssemos remediar; e na profusão de diálogos arrastados abrimos mão da inocência de um desejo. E nas louças sujas, nas toalhas lavadas, na cama desarrumada, perdemos aquilo que era nosso. Nos confundimos nas miopias litúrgicas da lama que nos assolou, e agora eu tenho que te olhar assim, meio amarrotado, com a barba por fazer.
E para minha surpresa, não, nós também não mudamos. Você me olhou da mesma forma que costumava olhar quando se sentia inseguro, e eu desviei o olhar assim como fazia quando não conseguia lidar com situações conturbadas. E o apartamento, o que faríamos?
-Tem planos pro almoço?
-Não, nada ainda.
- Podemos resolver essa questão do apartamento agora, tomamos um vinho e conversamos?
-Tudo bem.
Tudo bem mesmo. Um vinho, uma taça, uma garrafa. E a nossa vida novamente embreagada nos lençóis. O teu quarto, a cama que não era nossa, as nossas roupas jogadas pelo chão. E a nossa vida novamente entrelaçada nos carretéis do tempo. Dia seguinte, despertador. E vem a vida nos lembrar que a nossa vida; a nossa vida meu bem, já passou...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Já faz muito tempo, e eu sinto muita falta. Nesse exacto momento eu preciso muito escrever pra ver se gasto isso que me corrói lentamente agora. Nessas últimas semanas estou lendo três livros paralelamente, pra ver se esse seu vulto se afasta, pra ver se eu finalmente fico em paz comigo mesma.
E eu não sei por que todos esses caminhos me levam sempre a você, com todas as suas garras e indiferenças, com toda a sua despreocupação e desmazelo. Eu preciso demais dessa sua doce podridão pra me sentir mais segura, e a cada não tão sutil que você me diz, eu sinto que ainda existe uma esperança de um sim posterior.
Hoje eu li um livro inteiro e não parei de pensar em você um minuto sequer. "É uma pena, mas você não vale a pena.. não vale uma fisgada dessa dor". E não vale mesmo. E que bom que não vale. Porque aí eu não esqueço de como eu devo me posicionar diante de todos esses sujeitos que não conseguem suportar o peso leve de sua virilidade. Repousem teus falos em minhas fendas, queridos! Afinal, je suis ici. E já estou fatiguée d'être ici. Mas ainda há tempo, ainda há tanto o que escrever, meu amor..

domingo, 20 de setembro de 2009

eu passo horas e horas, lânguidas horas tão arrastadas te explicando minuciosamente cada doçura desse meu sentir. e te explico assim b e m d e v a g a r z i n h o para que você possa entender. Mas você insiste em não saber, insiste em virar as costas para as circunstâncias que perversamente nos aproximaram, e que tão neuroticamente nos afastaram.
E agora eu fico aqui, te esperando apesar de saber que você não virá. E hoje foi um dia como outro dia qualquer, e eu tentei pensar em como era e minha vida antes de você.
Você foi permeando meus espaços, foi se instalando devagar, e.. e me diz o que eu faço com esse teu abrigo, meu amor? Eu me incumbi de você, de te cuidar e te amar, de te fazer o bem divino e te cobrir de amores e amores, de flores de iemanjá e sementes de girassol. Eu não pude me sustentar sozinha, e fantasiei o imaginário da tua presença fálica que me fez companhia nessa doença que sempre chama por você.
'... eu protegi teu nome por amor' - e por amor eu cometi uma centena de crimes, eu violei leis invioláveis e ainda assim não te achei. Eu te perdi dentro de mim, e fechei os olhos pra distância que insistia em nos ferir.
Som, fumaça e sono; e eu ainda estou aqui. E há um limiar muito tênue entre a loucura e a compreensão, e eu preciso de você pra articular esse sinthoma, pra me manter firme nesse meio termo, que chamam por aí tão vulgarmente de vida.
, a cidade inteira dorme; e eu ainda espero aqui. Eu fui catando pelo caminho uma infinidade de coisas que por falta de descuido eu perdi; é. Me apeguei demais a coisas tão vãs, e elas se foram nas rachaduras da minha rigidez.
Agora eu estou aqui, os cabelos ainda molhados, e embora já sabe madrugada, eu não senti o dia passar; estagnada aqui, nesses espaço entre as vírgulas. E é assim que eu pareço ir, estagnada, sem sair do lugar, entancada nesse labirinto que me entretem. Entretanto, eu não tenho, e se tivesse isso que não tenho, talvez não soubesse o que fazer.
Eu quero muita coisa da vida, e já organizei e terceirizei essa vida para me isentar das responsailidades, e não ter que responder por isso que me perturba e que não se move, que se instala ali em berço esplêndido.
Eu queria ser menos prolixa, e subitamente objectivar tudo o que fosse cognoscível. Mas não é, eu sou uma realidade inexata e usurpadora da verdade plena; admensional e reticentes. Me segura bem forte nas tuas mãos e me impede de sentir assim tão tortuosamente. Me dá um pouco da tua paz, e me diz que ainda há tempo,
Incrível essa nossa inquietude humana em querer constituir um objeto para o desejo do Outro para nos defendermos da angústia insuportável do não saber do desejo prórpio desse Outro que invade, que outorga e viola.
O problema é que antes do desejo, existe a falta; essa falta ensurdecedora. E o que fazer com aquilo que nos falta e que é renegado em cada ruptura que acidentalmente causa quando nos escapa o controle da completude?
Eu escrevo, e não cesso de escrever. E eu sinto falta de muita coisa simplesmente porque preciso desejar. Nessa sociedade mortificante onde precisa-se ser - e o que é ser se não for para alguém? ; nessa sociedade onde precisa-se ser, eu vou me acomodando nas lacunas daquilo que o tempo não leva, e que álcool não limpa.
Eu perco tempo demais pensando, gasto amor demais sentindo, e não ouso jamais colocar nessa palavra triste o que eu não poderia jamais sentir. Perversa e masoquista. Eu já doei tanto, que não tenho mais o que dar, e nessa inocuidade mesma eu preciso me reinventar, e preencho esse vazio todo de silêncio e saber. E Foucaultianamente, esse saber é sim o meu poder, microfragmentado em cada imanência de cada palavra que eu jamais poderei dizer.
Inadmissível eu me permitir doer,desfacelo em palavras essas pequenas dores cotidianas para que ao fim da prosa, eu sorria de prazer da minha própria necrose. Essa minha literatura tão barata quanto pornografia de rodoviária, que me salva, e que me salva.
Se eu pudesse dizer toda a verdade que eu deveras sei, o mundo inteiro adoeceria de tanta surpresa. Perversa e masoquista, ofereço então a minha própria castração; e não quero não quero, não quero ter que me haver com essa falta de catexia libidinal.
Quero ver quem suporta a suportabilidade do outro quanto à insuportabilidade. Inalcançável, sou eu frente aos contratempos; irreparável, é esse lapso que me desliga do espectro das possibilidades; insustentável, essa estrutura frágil e toda remendada, e sem nenhum vazio.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Em segredo te contarei, minha vida; que é como chuva que chega que eu me abro toda azul a te receber. E me ilumino toda, e te admiro todo, e te peço tanto, mas tanto; que até confundo as palavras. Eu te dei o melhor de mim, e te cuidei e te amei. Ah, que história bonita eu teria pra contar; mas acontece que dia desses eu dormi com um desconhecido numa cama tão pequena, que eu tive que abraçá-lo bem forte, e eu pude te sentir em cada milímetro do meu corpo. Você, amor; no corpo de um desconhecido qualquer. E hoje já não me importa mais que você venha ou não, eu sempre vou te ter por perto numa fotografia qualquer, num porre de vodka ou num desses carros vermelhos que passam na rua.
Se eu pudesse, eu desfazia cada letra de cada texto de cada noite de cada cada, eu desfazia toda essa especificidade mesquinha e medíocre e transformava em estrelas brilhantes e dissimuladas a iluminar as putas da Amaral Peixoto, os travestis da 21.
Agora já é tarde, já tirei os saltos e desfiz a maquiagem; mas amanhã começa tudo de novo. E se por acaso você me encontrar por aí, não te escondas, meu amor. Se achegue bem pertinho e me diga que não sente falta, mas que sim, faz tempo.
Hoje eu vou escrever copiosamente uma infinidade de textos. São duas da manhã, eu já fumei alguns cigarros e estou pensando seriamente em beber um pouco pra tentar dormir. Já pensei em te ligar, faz tempo que não ouço a tua voz. E logo ontem, que eu estava tão feliz. Incrível essa vulnerabilidade, e mais incrível ainda a forma como eu associo tudo isso a você. Eu queria que você voltasse, eu queria que você fosse quem de facto você não é.
Eu desacostumei a ficar sozinha, e já não consigo me desligar desse vínculo imaginário que me liga a você. O tempo continua passando, e lá fora continua escuro porque é madrugada. Drummond, Chico Buarque, Betânia. E o sono que não chega? Clarice, Jabor. Outro cigarro, fumo a metade. E foi exatamente nesse quarto, nesse quarto ingrato, que você plantou uma erva daninha danada que não pára de crescer, não pára, não pára, não pára. Não cessa, e não cessa de não cessar, e você ainda não veio.
e quando eu me vi eu já estava lá, amalgamada nos teus braços, ouvindo o teu silêncio e concordando com qualquer besteira que você dissesse. E depois tudo virou um turbilhão de "se" , se a gente tivesse tentado, se a gente não tivesse dito, se a gente quisesse, se fosse diferente. se se se se, e a maré subiu e a gente não procurou uma praia, a gente se perdeu meu amor, sem que a minha mão pudesse segurar a tua mão tão bonita, sem que houvesse tempo para declamar qualquer palavra de amor.
E eu queria tanto.. eu não soube ao certo em que momento eu decidi ser tua, e também não sei precisar quando é que você viu que eu não era aquilo que te bastava; mas eu queria mesmo era saber como mesmo com tudo isso cintilando aos meus olhos, eu não pude ver que os nossos corpos se afastavam e os meus braços continuavam abertos a te receber. Me diz quando você volta, me diz se por acaso você volta,faz tempo; faz falta.
Faz tempo que eu não te vejo, e durante muito tempo esse tempo foi uma eternidade, não acabava nunca, nem depois de muito álcool. E eu sinceramente não sei dizer o que será de mim da próxima vez que os teus olhos encontrarem os meus. Hoje eu caminhei a praia inteira, e já fiz milhões de outras coisas pra ver se esse dia acabava logo, pra ver se você ia embora de vez.
Alguns dias eu esqueço da tua pregnância na minha vida, e te entrego tão doces as palavras que eu guardei, te dedico em segredo um mundo todo lindo que eu desenhei pra você, minha vida.
Eu preciso muito de você, e preciso agora; e tenho muito medo de te encontrar de novo e enfraquecer; afinal já faz tempo que a minha certeza jaz serena no jardim e eu oscilo entre aceitar ou não o teu querer tanto quanto difuso, obtuso e protuberante, cortante, angustiante, lancinante.
Se a gente tivesse tempo, eu te diria um milhão de coisas que se perderam na imensidão das tuas falhas, e outras tantas que permaneceram intactas nos teus terremotos sentimentais. Se você me deixasse, eu poderia ser a tua festa, o teu carnaval; o teu velório, o teu jardim.
E se eu dissesse que ainda é tempo, e que a gente poderia?!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Eu nunca lhe contei; mas sim, eu já lhe traí. Uma, duas, três, quatro, e dezenas de vezes. E tal como disse Arnaldo Jabor, a Suzane von Ritchthofen matou os pais na tentativa de sentir alguma culpa através de tamanha atrocidade. E eu, meu amor, te traí pra ver se assim eu me traía, pra tentar mostrar a mim mesma que havia em mim algum resquício de amor próprio, algo de especular que me fizesse capaz de viver sem você, longe da tua sombra. Eu queria ser suficientemente minha para que então te entregasse o melhor de mim, e assim eu seria integralmente tua.
E cada homem que se deitou em nossa cama, eu rezava pra sentir alguma coisa; repulsa, vergonha, nojo, desprazer. Queria poder ver na face alheia as tuas feições tão bonitas, e então sentir saudade ou qualquer coisa do gênero. Mas não, eu não presto, eu não presto. E gostei, e gozei. E nesse pecado do adultério fui te amando cada vez mais, e quanto mais eu me afastava de você nesse sacrilégio, mais eu te idolatrava, e te santificava; e me certificava de que não, longe de você não havia vida, havia somente um corpo nu, um aventura noturna, um desejo, uma demanda.
Mas com você, meu amor; eu podia viver, e criar um mundo todo novo com suas mentiras tão sinceras, tomando todo o cuidado do mundo para que eu acreditasse na leviandade de um sentimento teu. Eu te amo, eu te amo, e preciso que você saiba que sim, que eu te traí, e que por isso mesmo eu te amo ainda mais, por saber que você está acima de tudo isso, acima de qualquer capricho ou vaidade.
E o que significa confiança perto desse tanto de amor que eu sinto por você, minha vida? É indubitável, irrefutável essa certeza de que eu serei somente tua, mesmo com tantos homens penetrando os meus vazios, mesmo com tantos corpos habitando a minha cama por uma noite ou duas.
E acho inclusive que o fato de eu me portar tal como uma cortesã barata, lhe é útil para que no fim de cada noite, eu tenha a sensação de que você ocupa um locus intransponível, insubstituível na minha cama, na minha casa, na minha vida, nesse mundo tão delicado que eu criei para vivermos em paz.
E se algum dia você errou, repito Nelson Rodrigues : "Perdoa-me por me traíres", meu bem.
Já se passaram tantos dias, tantas horas; e eu não me dei conta desse caminho que agora eu trilho sozinha. Passo o tempo alheia a qualquer coisa que acontece, e assim o tempo vai passando com essa tênue fluidez, como se eu já não exercesse controle algum sobre isso que chamam de corpo, sobre isso que chamam de vida.
Hoje mesmo já li Pessoa, Caio, Maithê Proença, Clarice e Cecília, e assim o céu foi escurecendo e eu fui me dirigindo pra isso que chamam de diaseguinte. Dia seguinte a que?! Eu ainda não vivi o dia anterior, ainda não sepultei em cova rasa esse passado necrosado que insiste em retornar.
Já perdi a práxis na escrita, e sinto que as minhas habilidades vêm se atrofiando. Já não tenho medo, e não sinto dor, e já escrevi tanto que gastei tudo o que eu havia de sentir. Perco um dia inteiro tentando ganhar alguma coisa que me salve da virtualidade dessa escrita que me ressuscita, desse amontoado de palavras que me leva à redenção.
Não tenho paciência pra muita coisa, e como quem escala uma montanha eu vou vivendo, sorvendo goles quentes dessa ingratidão e esgrimindo com essa mulher que me entope de inteligência e livros e filmes e textos, e não vive, e não arrisca, e erra tanto, coitada.
A verdade é que eu sinto falta; "Il y a toujours qulque chose d'abient qui me tourmente", Caio cita Camille Claudel num texto qualquer. E muita coisa me falta, inclusive a própria falta.
Acho que é por isso que eu tenho essa necessidade absurda de me envolver nos submundos das realidades, e de psicoticamente cravar em mim traços que me vitimizem, de forma que eu possa sentir isso que os neuróticos adoram, e assim me regojizar nesse leito do mais-de-gozar. E eu não acho, não acho, não acho.
Eu procuro um coitado qualquer e o coloco no mais alto patamar do meu coração, e então projeto nele tudo isso que eu sou, e fecho os olhos para todas as imperfeições que ele jamais ousaria ter, e aí pronto, nasce uma projeção de mim mesma, um apêndice do meu próprio corpo, e parece até que já vivemos juntos desde sempre, e que pelo simples fato de eu tê-lo escolhido, ele já tivesse pré determinado a me amar. Mas geralmente é só sexo, ou um relacionamento já fadado ao fracasso. E então esse apêndice inflama, numa apendicite que dói, dói e dói; e aí é preciso uma incisão cirúrgica, e esse pedaço de mim me é retirado sem a minha permissão. Oh pedaço de mim, oh metade amputada de mim, leva o que há de mim.. E leva. Leva tudo o que há de mim. E então eu tenho que me reinventar, e procurar outra forma de projetar tudo isso que eu preciso pra viver. E faz falta, muita falta.
Seis e meia,meu Deus; preciso de café.

domingo, 2 de agosto de 2009

Eu queria mesmo que você fosse um lugar pra que eu pudesse voltar. Um lugar seguro para o qual eu regressaria sempre que o mundo me parecesse cruel demais; inconcebível demais. E eu teria você para dividir esse peso maciço que por vezes me cansa por demais.
Queria mesmo,amor;que você estivesse lá pra quando eu mais precisasse. Mas agora já passa da meia noite, e você ainda não voltou pra essa casa cheia de lembranças e saudades. E eu gasto as minhas horas pensando em como seria se eu não tivesse me precipitado tanto, se eu tivesse me permitido mais, se eu não tivesse te amado tanto. Eu te prometi milhões de coisas que eu jamais cumpriria se não fosse toda essa tua falsa complacência, se não fosse toda essa tua dureza parado na porto sem ir embora, e sem permanecer. Permanecer,até amanhecer, meu amor. Fica mais um pouco enquanto ainda é cedo, e então eu poderei te dizer tudo o que me aflige, e você com toda a tua hombridade que me fere me protegerá desse mal que eu inventei só pra te ter por perto.
Se a gente não tivesse dito tanta coisa, se a gente não tivesse feito tanta coisa. Agora já é muito tarde, e eu continuo formulando hipóteses que justifiquem a sua partida, que justifiquem tudo isso que nunca aconteceu. E eu não consigo achar aquilo que nós jamais perdemos, aquilo que nunca nos pertenceu, aquele instante em que sem perceber, você escapou por entre todos os atalhos que eu percorri pra te encontrar. E agora já passa da meia noite,meu Deus; e eu ainda tenho uma madrugada inteira pra encaixar nessa associação livre um lugar pra repousar a minha incompetência.
E onde andará você agora,minha vida?Um dia você volta; deixa eu te sentir,só um pouco. é, um dia você volta, parce que je suis ici. Encore, et pour toujours,mon petit.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Um dia eu tomei coragem e liguei, e com a voz ainda meio trêmula te pedi que viesse até mim. será, seria? Havia tempo que o meu amor não me bastava, e que eu precisava de uma infinidade de coisas que por limitação você não podia me dar, e quisera eu pudesse te causar essa mazela triste que chamam de amor. E as minhas necessidades foram cavando em você exigências implícitas entre os não-ditos dos nossos monólogos, e um dia eu cansei, exauri. E já não tinha mais forças para recolher as migalhas do teu carinho, tudo o que você por compaixão me doava, me era pouco demais. se nós acreditássemos na possibilidade de um fim.. E então você chegou, e eu juro que por um momento eu titubeei, e pensei em voltar atrás, talvez pudéssemos recomeçar, tentar de novo, quem sabe assim você não me olhasse com outros olhos, pedir que você me ame é muito pra você? E então eu vi teus olhos castanhos, agudos e independentes; e não desejei estar em outro lugar que não ali, aoteulado. Ne me quittes pas, ne me quittes pas, ne me quittes pas. Antes que eu começasse a falar, você me bombardeou de carinhos e mãos e beijos e abraços e promessas vãs e teorias mirabolantes sobre o mundo e a existência, e em nenhum momento você falou de mim e de quanto você precisava que eu te amasse, e aí finalmente eu me vi. Eu era uma adjacência, um anexo do teu ser tão complexo e bonito, eu era uma mão mecânica que te masturbava, na sua estante, a qualquer instante. Não havia em mim nenhum traço maternal com o qual você se identificasse, eu era apenas uma silhueta de mulher.
Um cigarro pra me acalmar, faça o que for, mas não me chame de amor. Não consigo mais, já não tenho mais o que te dar senão o vazio secco do meu próprio vácuo. Me impeça, me detenha, não me deixe ir embora! E quase que atonitamente eu permaneci ali, sentada no carro por alguns minutos, sem acreditar que eu deveras havia dado um fim. Eu queria mesmo era que você deixasse de lado essa tua virilidade fálica e me rasgasse a roupa, me mandasse calar a boca logo e finalmente segurasse a minha mão e me levasse contigo, pra onde quer que você fosse.
Mas como quem renega um filho, você calou, aceitou; e eu, como quem perde um filho, chorei. E o meu amor, esse filho bastardo, abortado foi pro ralo. E sem você, o que seria de mim? Te dei um beijo e saí, e dormi a noite mais tranquila da minha vida, e quando o primeiro raio de sol ousou me acordar, meus braços procuraram o teu corpo na cama já vazia; e então eu levantei alucinada, fechei as janelas, as cortinas, as portas, e desejei veementemente que ontem não tivesse acontecido. Eu podia te conceber de outra forma, eu devia te conceber de outra forma. O que seria de mim sem você, minha vida? Afinal, é você quem colore de preto e branco os meus dias tão descoloridos, e já que há de se sentir,sim, que seja por você.
Faz tempo que eu não escrevo, e ultimamente o que eu tenho escrito é endereçado a você. Não sei que laço é esse que me prende assim tão fortemente a você, e assim eu vou perdendo as barreiras do amor-próprio e entrego a você tudo aquilo que eu tenho, e tudo aquilo que também me falta. E eu já não posso mais me desvencilhar desse mal que você me causa, e nesse mais-de-gozar eu vivo, e é ele que me move.
E mesmo se eu pudesse escolher, eu escolheria você; com todos os seus defeitos e delícias, com todas as lacunas que você não preenche, com todos os sorrisos que você vez ou outra me permite sorrir. Ah minha vida, se os contratempos da nossa impertinência não nos desfacelasse tanto assim.. Eu queria mesmo era que você me amasse tão desesperadamente como eu te amo, e se isso de facto acontecesse, não teria nenhuma graça essa amor sub-humano que eu sinto, perderia toda sua preciosidade.
Eu te quero assim, tão subordinadamente pra que eu não me esqueça da minha imperfeição, preciso de você e de todo essa certeza que te circunda pra que eu me lembre de todo o medo que me assombra. Meu amor, minha vida, meu jardim; me dá uma fração da tua podre imensidão, deixa eu repousar meus pavores nas fendas flamejantes da sua mesquinhez.
Hoje já é tarde, e eu já desaprendi a desamar, me desarmei, te desamarrei das tuas teias, me prendi, te perdi sem sequer ter te possuído um dia. Erotomaníaca, neurótica e suicida. Fica comigo mais um pouco, acende o meu último cigarro e depois diz bem claro que eu não sou nada que você queria; mas não, não vá ainda.
, e pelo meio do caminho eu fui perdendo muita coisa, e de tudo que me restou, eu ainda tenho a você, na verdade o que eu tenho é aquilo que me prendia à você. Que falta você me faz, meu amor.. Se eu pudesse escolher, decerto seria você, com todos os seus defeitos e delícias, com o seu português bem falado e a sua embriaguez irritante, mas sim, seria você.
Talvez tivesse sido diferente se a gente não insistisse nos mesmos erros, e se nos permitíssemos trilhar por caminhos que não fossem a nossa insegurança. Se eu não fosse tão tua, e se você não fosse tão teu. A nossa história não tem passado nem futuro, está cristalizada numa sucessão de acontecimentos que delineiam um presente triste e avassalador, permeado pela falta e pela suplência. Já passam das 3 da manhã, meu Deus. Enquanto você não volta pra casa, eu vou (sobre)vivendo os meus dias tentando apagar os seus rastros, e quando a saudade corrói, eu te ligo bem tarde só pra ouvir a sua voz mais uma vez.
Dia desses, arrumando as fotos nas caixas, eu te vi quase sem querer. e se algum dia eu fui mais feliz, não sei dizer. Desconcertante te ver assim tão próximo a mim, como se o mundo inteiro fosse pequeno demais pra nós dois. E assim você vai passando por mim, clandestinamente entre reminiscências e saudades, e mesmo que eu tente não reviver isso que ainda não passou; eu sei que não demora você volta, colore esse apartamento todo de felicidade, me afaga de mentiras e depois vai embora de novo. E como quem colhe uma flor, eu te espero de novo; regando as cicatrizes incuráveis da tua ausência, e no hiato de tempo do enquantovocênãoregressa, eu tento varrer os cacos de uma vida em botão, toda despetalada pelos vidros frios desse inverno que não cessa.

domingo, 12 de julho de 2009

Ontem eu vi na rua alguém igualzinho a você, e então eu sorri. Sinceramente, eu havia me esquecido de que um dia você com toda a sua aspereza iluminou algumas dezenas de dias da minha vida. Verdade, quase que por um segundo eu revivi toda a nossa história tão bonita e tão tóxica, e nas minhas vãs lembranças, a tua indiferença não superou a tua doçura; e então eu vi nitidamente os teus olhinhos agudos de quando você sorria, e as covinhas do teu sorriso. E te vi na minha sala, concentrado em coisa qualquer na televisão, e depois dirigindo e ignorando todo o mundo a sua volta. Nesse momento, eu senti saudade, e uma vontade enorme de te ter de volta, de te esperar pra que no fim eu pudesse ser a única, pra que eu pudesse ser a tua, somente tua e de mais ninguém.
Mas as circunstâncias me atropelaram e eu narcisicamente escolhi te perder, e assumi os riscos, e depois de alguns dias de tristeza e de muita falta, eu te esqueci. E esqueci inclusive de lembrar de você, até mesmo nos seus momentos bonitos, e assim você foi se desfalecendo nas minhas memórias sem que eu pudesse perceber, até que ontem eu te vi no corpo do homem na rua. Aquele homem estranho que passava e que me mostrava muito de você. E embora não tenha dado certo, durante 180 dias eu fui tua, durante 180 dias você me possuiu sem a minha permissão, você me descobriu e me abriu a sua vida pra que eu cultivasse o meu amor. E o que são 180 dias dentro da imensidão de uma vida inteira? São 4320 horas em que meu pensamento se direcionou a você, são 4320 horas em que eu esperei ansiosamente a sua chegada, deixando a porta da minha casa aberta pra que você entrasse logo e matasse a saudade que me matava. Foram dias de saudade, e momentos outros em que eu desejei que você fosse embora e não voltasse mais, que você me concebesse de outra forma, que você deixasse transbordar tudo isso que você sentia. Mas agora já faz tanto tempo.. E eu sinceramente já não tenho mais forças pra te receber de volta; mesmo que eu quisesse, mesmo que você pedisse. Eu até aceitaria a tua mão e o teu abraço aconchegante, desde que eu me livrasse dessa memória aguda que me invade sempre que uma silhueta anônima me lembra que um dia, que durante 180 dias, a minha vida cruzou na tua.
Muitas pessoas passaram pela minha vida, e eu não sei dizer como foi que dentre todos esses sorrisos bonitos, dentre todos esses corpos que aqueceram a minha cama, eu te escolhi pra ficar. Eu queria ter razões pra me convencer de que você vale a pena, e poder ter o conforto de te gostar sem martírio, sem dor, sem saudade, sem tanto amor. O problema é que eu já estou demasiadamente presa a você, e isso foge à qualquer possibilidade de escolha.
Eu queria ter a coragem de te deixar partir, e de não ter que prescindir da tua presença toda vez que vou dormir. Pra falar a verdade, eu nem sei o que é isso que me liga assim tão fortemente à você, e mesmo que eu saiba da finitude desse tempo que nunca nos pertenceu, eu te quero. Eu ainda te quero, apesar do teu corpo se afastar do meu no meio da noite, e mesmo sabendo que você não me ligará no sábado à noite, e que não terá a gentileza de acender o meu cigarro depois de um dia cheio.
Engraçado a forma como eu preencho a lacuna que você mesmo causou em mim com a sua presença um tanto quanto ausente, e a forma infantil como eu fico feliz quando você vem. Eu queria mesmo era aprender a deixar você ir, e entender que eu não preciso de você pra ver todo esse amor se esvair de mim, escorrer por um ralo qualquer.
Eu conheço a paciência, o desmazelo, o desprezo e a resiliência; mas é incrível como você me faz circular por tudo isso ao mesmo tempo.
Hoje eu preciso muito de você, só pra ter certeza de que eu ainda posso, e que ainda existe alguma coisa em mim que faz com que você atenda ao meu chamado. Seja lá o meu vazio que você com toda a sua virilidade preenche com a concretude do teu falo, ou até mesmo a rachadura da minha fraqueza que você insiste em me fazer desmoronar com a hegemonia do teu ego. Mas vê se volta pra casa hoje, enquanto eu penso em como eu fico nesse espaço angustiante do enquantoeuespero.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

"Mar sob o céu;cidade na luz;mundo meu,canção que eu compus.Mudou tudo agora é VOCÊ."
Engraçado essa capacidade de dependência,de precisar viver para.Dedicar a vida à alguém é valioso,e merece uma reciprocidade inócqua,é a fidelidade de quem comete o sacrilégio;o silêncio mudo e sublime de quem goza junto.Ainda não descobri o que atrai mais:os versos de dor,ou os de amor.E enquanto meu coração oscila entre o que foi e o que jamais será,eu escrevo à você,meu amor.Você por quem eu de facto entreguei a minha vida inteira,por quem eu amei muito mais por egoísmo do que por amor.E hoje eu sinto uma falta absurda de tudo o que foi [e que não foi] vivido.Das tuas mãos geladas e da tua língua quente.Das palavras que por orgulho você não me disse,e dos cigarros que você insistia em fumar na cozinha.Pelo teu zelo e pelas mentiras sinceras que você por vezes me disse.Pelo teu cuidado em me enganar para que eu não desfalecesse,por honrar tão fidedignamente o meu amálgama para contigo.Ah,meu amor.Se nós não insistíssemos tanto em manter os mesmos erros;e se fechássemos os olhos para os contratempos da vida;poderíamos continuar nos amando com palavras hostis,e nos ferindo com beijos de amor.Poderíamos permanecer deitados na mesma cama que um dia nos traiu.Hoje eu sinto tanta falta...E me contento em reler os livros que você me deu,e clandestinamente reviro a tua vida,pra saber em segredo como você vive sem mim.E entre crises de euphoria e lapsos de lágrimas,eu procuro razões pra explicar o que me leva a depender tão instrinsecamente de você.Que laço é esse que me prende a você de forma que me faz acompanhar cada passo teu,e sem que eu perceba já estou ligando pra tua casa às 4 da manhã?Esse amor tão grande que estampa até hoje a minha sala com as tuas fotos nos porta-retratos,e com as tuas cartas na geladeira.E desculpe,mas ainda não consegui me desvencilhar do velho hábito de te ligar de manhã para desejar um bom dia,e de pedir aquele vinho que você gostava.Estranho falar de você usando o passado;uma vez que você se encontra muito próximo de mim.A verdade,amor;é que eu preciso de você pra ser eu.Preciso da tua froça pra atestar a minha fraqueza,e do teu sorriso pra certificar a minha competência.Preciso de você amor,pra encontrar meu lugar natural num mundo que não exite sem você.E não se preocupe,ainda durmo do lado esquerdo da cama;e a porta do nosso quarto está aberta enquanto eu espero a sua volta;e as suas roupas que ainda estão aqui,lavo semanalmente;e a aliança dourada ainda enfeita as minhas mãos.Dizer o quanto eu te amo seria redundante,e mesmo que eu perdoasse as tuas falhas(mais uma vez);não mudaria em nada a forma como eu te concebo.Eu lhe pertenço por inteira,e enquanto você não vem eu curo a minha abstnência em outras fontes pouco saciáveis.
É verdade que eu sinto muito a sua falta,mesmo quando você está ao meu lado eu sinto falta dos pedaços que você me rouba pela tua fatídica presença que me consome os olhares e as posturas,pelas minhas pernas que inquietas se cruzam sem cessar,e pelos meus sorrisos que se abrem felizes para te receber.Queria,dentre outras milhões de coisas,poder te dizer que você deixa a minha semana mais feliz,e eu espero ansiosamente que as minhas sandálias altas caminhem até a sala onde timidamente terei o conforto de estar ao teu lado.E poder quase que anonimamente te amar e te acalentar com o meu olhar,que capta cada movimento teu,desde o teu leve estrabismo que me cativa até o teu fálico tom de voz que me lambe os ouvidos.É um tanto quanto constrangedor eu assumir que eu preciso de você devido ao facto de você me suprir tudo o que eu já tenho.Dentre as minhas certezas que gritam pro mundo o meu orgulho e o meu egoísmo;eu preciso de você,da tua certeza e da tua segurança para me desproteger;preciso da tua virilidade para apaziguar a minha ilusória auto-suficiência.Eu preciso de você,não somente pelo facto de você ser quiçá o meu amor infantil;mas sinto que você é tudo aquilo que se escondia por detrás dos meus sonhos de menina,dos meus desejos de mulher.Preciso do teu abraço forte;e da tua postura viril,da tua hombridade,das tuas mãos grandes e da forma como você não precisa de ninguém.E enquanto você não vem,eu sorrio ao te ver e tento supor quais serão os próximos passos da tua estrada enquanto espero ela cruzar com a minha.
Nessa cidade cheia de gente,carros e poluição;eu navego pelas ruas procurando você;fantasiando diálogos e expressões que banalizariam tudo isso que ferve aqui dentro.Nessa noite eu não preciso de mais ninguém;tenho o conforto maternal do maço de cigarros em cima da mesa e da garrafa de vinho que me espera solitária na geladeira já vazia.Gostaria de te chamar pra um jantar,um café,uma transa rápida num motel barato;eu queria mesmo era me livrar desse peso gostoso que você me causa.Acho que isso que eu sinto pertence à você,te é inato porque foi você a causalidade.Enquanto você caminha alheio à tudo que te circunda,escondido por detrás dos teus olhos míopes que me encantam;eu sinto o meu dia diminuir,minguar,despedaçar.E é bonito,é como esperar o sol se pôr no Arpoador,ou sentir as ondas frias de Geribá.Revitalizante,é o que você é.Essa latência que tanto me incomoda agora, é fruto de tudo aquilo que eu não disse por medo de errar,do que eu não fiz por medo de ousar,do que eu não escrevi por medo de doer.Hoje eu passo a maior parte do tempo contando as horas em vão,esperando o teu carro passar na minha rua,o telefone tocar;e todas essas coisas que só quem ama espera.Esperar não é ainda a palavra certa pra dignificar isso que me confunde e me difunde.Eu não preciso da tua autorização para que eu viole a tua vida,negligencie o teu corpo;até porque não é o que eu desejo.Eu desejo o teu desejo;o teu instinto de me entregar incondicionalmente o que te pertence,a tua língua descobrindo as minhas fendas,do teu falo repousando em meus vazios.Talvez já fosse tarde para que pudéssemos tentar,para que você me dissesse as coisas certas ao invés de deixar escapar pelo teu timbre a tua insegurança.Mas você insiste em me surpreender com a tua maturidade ainda que incubada;e com a tua hombridade camuflada pelos traços do teu rosto,pela tua barba por fazer.Já passam das três da manhã,e é muito triste uma mulher da minha idade viver sozinha nesse apartamento tão grande,sem nem mesmo um cãozinho pra afagar os meus pés enquanto durmo.Fico feliz em ter você,mesmo que assim abstratamente,ilusóriamente;mesmo que por enquanto.
Hoje eu suspirei aliviada porque de facto me dei conta de que,apesar de não ter você,eu tenho tudo o que você me traz.O que é bastante reconfortante;eu tenho isso aqui,essas palvras que fluem tranquilas do meu coração para o seu num trajeto que se desvia e se perde devido à sua indiferença,à sua falta de percepção que não vê o quanto os meus olhos te querem,o quanto os meus braços te precisam,o quanto o meu desejo chama o teu.Ontem te vi tão bonito e tão indefeso,e ao mesmo tempo tão forte e tão seu.Eu ainda não me acostumei com a tua presença,e embora você atraia todos os meus olhares e posições,embora eu já me sinta completamente sua;existe alguma coisa que me impede de te olhar de frente,te olhar até você sentir medo,até você se sentir nu,até você se misturar nisso que eu sinto aqui dentro,e que é por você.Pra falar a verdade,já me acostumei com essa distância entre mim e o meu objecto amado;esse abismo que te deixa tão próximo de mim a ponto de eu não poder tocar.E eu sinto um frio que me congela,e faz permanecer uma melancólica latência dentro de mim.E eu já me contentei com os textos que eu escrevo toda noite pra aliviar essa superprodução de amor,e com os romances proibidos que me aparecem de quando em vez e me escondem no carro estacionado na estrada,me cobrindo de beijos vazios e silenciosos,e mantendo em segredo tudo o que puder acontecer.Sei que daqui um tempo,você estará sorridente na prateleira do meu quarto junto a todos os outros a quem eu amei,e não ousarei em dizer que com você foi diferente,e que você causou em mim uma emoção bonita que eu jamais pensei sentir.No entanto,assim como todos os outros,eu sentirei saudade de você;saudade de uma série de coisas que só você causa em mim,do misthério em te decifrar,da vontade de te ter bem perto,das frases tão ambíguas que você diz sem perceber..E enquanto o inverno insiste em chegar,eu agradeço a você pela inspiração,pela face bonita que Deus colocou em meu caminho e que alegra a minha noite algumas vezes na semana.E enquanto eu não tenho o teu calor pra me aquecer e a tua segurança pra me proteger,eu me satifaço com a tua paisagem na minha memória,com as reminiscências que não houveram,e transformo em palavras tudo aquilo que ainda está reservado pra você.
Bastou um dia ao teu lado pra eu mudar tudo o que ontem mesmo eu sentia e pensava.Te ver bem de perto me causou essa vulnerabilidade que me fez sorrir sozinha hoje enquanto caminhava pra distante de você.Ontem enquanto eu parei no tempo ao teu lado,vendo e invejando o teu sorriso bonito,e sentindo o teu calor que aqueceu as minhas mãos geladas,e ouvindo a tua voz firme enquanto eu devaneava pensando num futuro que talvez nos pertencesse.Por hoje me basta esse sentimento que me sucumbiu,que me engoliu os sentidos e me fez perder o tino.Por hoje me basta a saudade que eu vou sentir de você até a próxima vez que cruzarei o meu olhar no teu.E enquanto o tempo não chega pra gente,enquanto não saem da sua boca as palavras que eu tanto preciso ouvir,eu espero com o jantar à mesa e os lençóis sempre limpos.Porque ainda é umaemeiadamadrugada,e temos muita coisa pela frente nesse mês que desnuda a cidade e me trasporta pra sempre perto de você,mesmo que você negue,renegue,não veja,esqueça.
Psicanaliticamente eu sei que ao amar e desejar,sente-se angústia.E não poderia haver palavra melhor para definir isso que me acolhe agora:angústia.Uma sensação de impotência,medo de perder o que não me pertence,vontade de te segurar pelas roupas,pelos cabelos,pelas entranhas e te pedir pra ficar mais um pouco.Talvez fosse cedo demais pra dizer tudo isso que eu ouso dizer,mas hoje eu sei que por você,meu amor;eu mancharia os meus textos com qualquer frase de efeito,com qualquer clichê que tentasse explicar essa euphoria que me consome agora.Cada minuto ao teu lado me faz acreditar na eternidade de um momento que nos pertence,e qualquer coisa que você faz desperta o meu riso,as tuas mãos grandes e fortes sobre as minhas,ainda que tímidas.Gostaria de pedir que mesmo que você se fosse,que deixasse teus olhinhos agudos a me olhar,as covinhas do teu sorriso,a tua pélvis delicadamente sobre os meus quadris,e a tua voz acariciando o meu ouvido.Existem milhões de coisas que eu gostaria de te dizer,meu amor;coisas com as quais você seria incapaz de lidar.Te quero perversamente,neuroticamente,com todos os seus psicotrópicos e alucinações,com as tuas fraquezas e as tuas exuberâncias.Devo decerto afirmar que me impressiono com essa minha capacidade de sentir tudo isso mais uma vez,mesmo que agora você tenha aparecido na minha vida de forma bonita,de forma tão intensa que já se faz inevitável fundir você com isso que brota dentro de mim.Já está ficando tarde,e eu peço encarecidamente que você venha pros meus lençóis,pra minha cama,pro meu quarto,pra minha casa,pra minha vida;que você me invada sem pedir permissão.Eu preciso de você,e me sinto muito infantil ao assumir isso.Devo confessar também que além de desejar muito,eu tenho a certeza de que um dia a tua face bonita ainda vai enfeitar os porta-retratos da minha sala,da nossa casa,da nossa vida tão feliz,repleta de alegrias cotidianas desse nosso dia-a-dia tão feliz.Sei que não é tarde,amor.A luz ainda tá acesa,e dessa vez eu sei que vai ser diferente.
Eu queria mesmo era saber como eu perambulei pelo mundo sem ter você.Como é que as sapatilhas que bailavam risonhas tinham uma tênue alegria sem nem sequer te conhecer.Hoje só o teu nome me confere uma outra felicidade,uma felicidade euphórica e angustiante;uma infantilidade que retorna avassaladoramente sem que eu me dê conta.É me fazer criança de novo,desejando,esperando,contando os minutos pra estar do seu lado de novo,pra sentir seus olhinhos me olhando,também a sua angústia de não saber ao certo o que fazer.Se eu pudesse,perversamente te arrancaria os pedaços e te espalharia pela casa,pra ter a certeza da sua presença,pra eternizar o teu sorriso bonito e cristalizar as tuas vergonhas.Se eu pudesse,meu amor;faria um milhão de coisas que só você me instiga a fazer,me jogaria nos teus braços e pediria pra você me guardar pra sempre dentro de você.Deixaria as portas abertas,as janelas escancaradas pra quando você quisesse voar pra dentro de mim.Se não fosse essa terrível pressão superegóica,eu seria capaz de soletrar bem alto o quanto eu preciso de você nos momentos em que você me rouba os vazios ao me olhar assim,tão gentilmente.E enquanto essa angústia me consome,os dias vão passando felizes ao teu lado,trocando palavras inócquas e outras sem sentido algum,algumas outras com um certo tom fálico e muitas outras que se reduzem a sílabas&fonemas quando você me fita os olhos e me enlaça a cintura.Ah,meu menino,meu amor;se um dia você soubesse...
Não é novidade que a insônia acomete grande parte desses desocupados que dedicam suas solitárias madrugadas a pensar em suas vidas ligeiramente mal vividas.E ontem foi a minha vez.Percebi que tenho me aproximado de uma (sur)realidade subversivamente perversa e promíscua afim de me afastar do medo da solidão,da incapacidade,da invalidez,do fracasso.Pra ser de facto sincera,durante esses últimos anos tenho encenado mil e uma personagens,desenhado delicadamente sorrisos e olhares,e depois tento árduamente me convencer de que eu sou meus próprios personagens.Não entendo essa necessidade extrema de aprovação e caridade que eu clandestinamente emano.Não,não sei o que é o medo nem o desespero porque me protegi a vida inteira de sentimentos tão reveladores através de palavras sutis e sorrisos gentis;abri mão da minha dor para que eu me convencesse de que o mundo é realmente bonito.Confesso que não sei o que eu fiz de mim na tentativa de me descobrir nos braços alheios,para que eu me certificasse de que eu era sim capaz de amar.Estranho essa capacidade sobre-humana de amar,e lamentável o que se faz para ser abençoado por essa dádiva ácida e viscosa.Eu mesma já perdi as contas de quantas vezes errei tentando acertar;e de quantas palavras se foram em papéis rasgados no meio da noite.Já perdi as contas de quantas vezes precisei de vodka com muito gelo pra engolir e esquecer um facto intragável,amargo,líquido.Já não sei quantas vezes dormi rezando pra chegar o dia seguinte,e de quantas vezes me senti tão frágil a ponto de perder as fronteiras do amor próprio e implorar por um pouco de carinho e atenção.Já nem sei quantas vezes eu julguei amar no impulso latente e vívido por uma experiência mais decente do que as outras tantas.E hoje é domingo,à noite;e as circunstâncias agora conspiram contra mim e me induzem a ler um pouco de Clarice e ouvir um pouco de Bethânia,enquanto meus olhos se banham nessa água quente de sal.
Hoje enquanto o teu corpo debruçava sobre o meu no sofá da sala,e em meio às suas chantagens sempre pedindo algo em troca;eu lhe prometi um segredo que por medo ou insegurança eu calei.Se não fosse a prematuridade de tudo isso,e o pouco tempo pra tanto carinho,eu lhe diria um milhão de coisas que ficam guardadas esperando o tempo certo de serem ditas.Et pour toi,mon cher;eu guardo sentimentos bonitos e serenos,de uma tranquilidade mansa que é como se eu não percebesse que você chegou.Hesito em falar de mim e de tudo que me circunda advindo da tua magnitude que me surpreende e me escapa o controle das minhas próprias rédeas.O facto é que você provoca em mim um turbilhão de coisas velhas que se renovam na covinha do teu sorriso,e nos teus olhinhos agudos;e então eu cresço a cada dia que a tua luz brilha em mim,e passo a ver o mundo de outra forma..não tão ingênua quanto Lóri,e nem tão incrédula quanto o teu atheísmo;mas feliz,de saber que hoje,pelo menos hoje,eu tive o teu sorriso estampando o meu dia. x)
Instantâneo e imediato;é o acto da espera.Esperar que venha a noite,para depois esperar novamente raiar o dia.Bonita essa dádiva humana a de não querer esperar,a vontade impetuosa de chegar o minuto seguinte,que logo se injeta na veia tornando-se ominutoanterior.Incrível a velocidade com que o presente se torna passado,e o futuro se distancia cada vez mais.E a verdade que brota invisível no asfalto quente toda vez que eu insisto em sair às ruas é que,se não fosse por escrever,eu estaria presa nesse minuto chamado angústia;o que de certa forma é uma coisa instigante.A angústia antecede o desejo,precede a vontade;e psicanaliticamente falando,nessa efemeridade dos signos,eu procuro uma certa concretude para o significado dos meus próprios significantes.No entanto,tem sido cada vez mais difícil deixar a certeza da minha racionalidade para trás,abrindo mão de caminhos tracejadamente certeiros em prol de uma estrada tortuosa e florida de acontecimentos novos e surpreendentes.Tenho dado chance ao tão desconhecido diadeamanhã,já durmo com a luz apagada e não tenho medo de dizer o que o coração me faz dizer,mesmo sabendo que o que eu digo diz muito mais do que aquilo que eu de facto pretendia.Amanhã;é o dia depois de hoje.E hoje é somente hoje;alheio aos erros do ontem e aos ensejos do amanhã.E agora enquanto eu escrevo tranquilamente palavras desconexas que delineiam uma crônica difusa e prolixa, já não preciso de lítio,alcool ou nicotina para aliviar aquilo que se encontra no vão entre a espera e o milagre;até porque não suportaria a espera,e não compreenderia a magnitude do milagre.Obstinada,inflexível e um pouco descrente;seria a personagem ideal.Boba e infantil,sou eu diante das coisas que me aparecem genuinamente bonitas nesses dias onde tudo conspira mistheriosamente,reticentimente,hesitantemente;sem destino certo,numa velocidade absurda que de repente se esvai.E no fim,me sobram flores murchas e a nostalgia da grama insuportavelmente verde,que me fazem ver que apesarde;ainda me resta um quase que sobretudo me é um supertudo.
Dia desses uma moça me sorriu gentil pelas ruas de Icaraí.Uma gari,42 anos,quatrocentosequinzereaisaomês,cabelos escovados e lábios pintados de carmim.Ela me sorriu com uma alegria de quem não tem as mãos caleijadas,e não veste um uniforme que a identifica como uma prestadora de serviços.Ela não estava isenta de sua genuína beleza,no entanto não tinha identidade.Podia ser Maria,Joana,Helena ou Vera,mas naquele momento era somente uma mulher que varria as ruas.Aquele sorriso me disse mais do que eu esperava receber.Ela não tinha a fragilidade de Sylvia Plath,e nem mesmo a altivez de Cristiane Torloni.Ela podia ser Maria,Joana,Helena E Vera.Multifacetada e descolorida,era a mulher que eu vi na rua.Por debaixo do uniforme desforme,ela decerto escondia uma lingerie rendada,e uma cicatriz de cesaria.Era uma mulher generosa,e pude ver que as unhas estavam impecavelmente feitas.Café bem forte de manhãzinha,o almoço já preparado pra quando as crianças acordarem,a faxina ficou para o sábado,e a encomenda da vizinha chegaria hoje mesmo:havia comprado lençóis novos para a pequena cama de casal.A noite chegava se dissipando em vapor enquanto aquela mulher rumava de volta pra casa,onde telefonaria para a sogra,fumaria um cigarro na janela,e ensinaria a lição de casa às crianças.De madrugada cumpria sua função de mulher,e assim acordava sorridente no dia seguinte.E qual é o dia seguinte de nossas vidas?É uma página que já vem escrita,são fatos que se acumulam uns sobre os outros e assumem o controle sem que nos demos conta.O dia seguinte é simplesmente a continuação do vício de ontem,que será o mesmo vício de amanha.E para uma mulher,seja ela a gari da rua,a Sylvia ou a Cristiane,o dia seguinte é a incógnita do desejo alheio,é a resposta que precede o silêncio;é a angústia que antecede o choro.Para uma mulher,o que ela vale é o que ela doou.E é difícil saber quanto se tem num mundo onde só se perde,mesmo que seja preciso perder pra ganhar.E no dia em que a moça me sorriu feliz,fui eu quem perdi.
Já faz um tempo que eu perdi a práxis na escrita,e passei a me alimentar de ócio e ópio pra cobrir os espaços que as palavras que escorriam delicadas me presenteavam.Desde aquele dia em que você me negou tudo aquilo que de facto eu não precisava,eu esqueci como é que se faz pra viver de novo.Sinto que ainda é cedo,e ainda jaz no meu jardim a nossa antiga certeza.Sinto muito a sua falta,amor.A forma como você sorrateiramente entrava no quarto de madrugada,e o seu despudor em me descobrir quando eu só precisava do teu silêncio que nunca soube calar.Hoje eu vejo a nossa história tão feliz,e revivo os fragmentos ainda vivos ao sentir teu perfume no travesseiro,e ao rever aquelas photos.Existia um fluido bonito que me ligava a você,e que até hoje faz com que minhas mãos permaneçam inquietas quando você está por perto.É essa tua certeza,essa virilidade,essa forma como invejosamente você não precisa precisar de ninguém.É a tua abstinência e a tua segurança.Na verdade sou eu.É a minha insegurança,a forma como meus lábios se abrem para te receber,é a porta da casa destrancada,e as suas roupas sempre lavadas.Era mais fácil viver infeliz ao teu lado,porque apesar de tudo,eu tinha você pra fantasiar.Sinto falta dos momentos em que eu me senti perdida sem você por perto,sem as suas mãos pra entrelaçar as minhas enquanto eu atravessava a rua,sinto falta do teu rouco bom dia todas as manhãs,e até mesmo daquele perfume desconhecido na tua camisa.Poderia ter sido differente,se você não insistisse em se desculpar depois dos seus erros,e se você não rabiscasse declarações no espelho do banheiro.Eu poderia sentir por você essas coisas que eu já senti por todos aqueles que me acalentavam com os olhos,e me estendiam os braços;no entanto,você me tirou do eixo,e estremeceu as minhas crenças.Você me desviou do caminho,e plantou em mim o seu desejo um tanto quanto difuso;você me decifrou e me deixou despida,nua,vazia de tudo aquilo que me bastava.Existia a vida antes de você,e era uma vida colorida de sóis e girassóis;e hoje existe a vida calma depois de você,e os meus sonhos nas tuas mãos.Existe ainda o medo do escuro,e a sensação estranha de não descansar meu corpo no teu colo.Existe o limiar obtuso entre o que foi e o que não foi;e a minha vida sempre por um triz.Existem reminiscências e atos falhos que deflagram o quanto você ainda está latente em mim.Mas acima de tudo,existe o que existiu,o que houve e o que havia;e nessas palavras que mancham agora o papel,em cada letra eu te sinto presente,meu amor.Não me vejo te pedindo pra voltar,ou quiçá esperando a tua compreensão.Ainda tenho os cigarros que você me deixou,e as palavras serenas da analista toda semana.E de você;eu tenho aquilo que eu te entreguei sem medo e sem dor.E de mim,eu tenho essa essência rala e mesquinha que você recusou.
Eu nunca ousei dizer o quanto eu te amava,porque nunca quis ouvir o contrário.Na verdade,eu não sei ao certo o que me liga tão fortemente a você,uma vez que a tua indiferença me cobre de gelo e névoa,e a tua displicência me deixa sozinha nesta sala tão cheia de gente.Hoje de facto estou um tanto quanto sensível,e pensei em lhe escrever uma carta,um poema,um verso bonito para que você sorrisse ao ler as minhas palavras tão sinceras.No entanto,a tua imprevisibilidade me atordoa de esperanças,esperanças vãs,e eu aceito o pouco que você pode me doar,a fim de não lhe desagradar.Por vezes eu esperei palavras que nunca ouvi,e abraços que não recebi.Ainda é cedo pra tanta coisa,mas já é tarde demais pra me desvencilhar do bem que você me faz.Seja lá um bem perverso ou não,é você que eu quero,e foi você quem eu escolhi.Nunca temi a dor,a partida,a saudade,o amor.Mas você desperta em mim um alerta que eu hesito em atender,que eu evito perceber.Tenho oscilado bastante entre o querer e o nao querer,entre o acto e abstinência,entre o vício e a virtude;e se não fosse a vibratilidade disso que me apavora,eu poderia abrir mão de tudo sem olhar pra trás,e continuar a vida bonita que eu levava antes de você.Se você ao menos soubesse como é longo o hiato da espera,e como é triste a própria espera...Esperei resignada tudo que nunca veio,e ofereci a você delicadamente cada flor que eu cultivei no meu jardim.Te cuidei com a ternura maternal,te aceitei com a compreensão de quem perdoa,e julguei por limitação a sua incapacidade de amar.Eu já não posso me desfazer desse amálgama que me liga a você,e já não posso mais deixar a porta destrancada.E hoje,ao fim do dia,tentarei não te isentar da responsabilidade da minha neurose,e prometo também me silenciar sempre que o teu domínio me invadir;e principalmente,ter a coragem de te deixar na próxima vez que teu corpo se afastar do meu no meio da noite.

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Hoje durante a sua visita,eu realmente precisava da tua palavra,gostaria de lhe contar meu dia,e entre um sorriso e outro,dizer que por repetidas vezes eu pensei em você.Queria poder te abraçar demoradamente sem dizer nenhuma palavra,e depois ver você partir com olhar de saudade,e um beijo na testa.No entanto,você sentou calado e me pediu para também calar quando as minhas palavras se excederam.E depois,um pouco cansado,você aconchegou seu corpo junto ao meu,enquanto as minhas mãos repousavam sobre os teus cabelos;e foi assim que,clandestinamente,eu absorvi um pouco de você,e pude lhe oferecer algo que você não pôde se dar.

11/05/2008