quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Já se passaram tantos dias, tantas horas; e eu não me dei conta desse caminho que agora eu trilho sozinha. Passo o tempo alheia a qualquer coisa que acontece, e assim o tempo vai passando com essa tênue fluidez, como se eu já não exercesse controle algum sobre isso que chamam de corpo, sobre isso que chamam de vida.
Hoje mesmo já li Pessoa, Caio, Maithê Proença, Clarice e Cecília, e assim o céu foi escurecendo e eu fui me dirigindo pra isso que chamam de diaseguinte. Dia seguinte a que?! Eu ainda não vivi o dia anterior, ainda não sepultei em cova rasa esse passado necrosado que insiste em retornar.
Já perdi a práxis na escrita, e sinto que as minhas habilidades vêm se atrofiando. Já não tenho medo, e não sinto dor, e já escrevi tanto que gastei tudo o que eu havia de sentir. Perco um dia inteiro tentando ganhar alguma coisa que me salve da virtualidade dessa escrita que me ressuscita, desse amontoado de palavras que me leva à redenção.
Não tenho paciência pra muita coisa, e como quem escala uma montanha eu vou vivendo, sorvendo goles quentes dessa ingratidão e esgrimindo com essa mulher que me entope de inteligência e livros e filmes e textos, e não vive, e não arrisca, e erra tanto, coitada.
A verdade é que eu sinto falta; "Il y a toujours qulque chose d'abient qui me tourmente", Caio cita Camille Claudel num texto qualquer. E muita coisa me falta, inclusive a própria falta.
Acho que é por isso que eu tenho essa necessidade absurda de me envolver nos submundos das realidades, e de psicoticamente cravar em mim traços que me vitimizem, de forma que eu possa sentir isso que os neuróticos adoram, e assim me regojizar nesse leito do mais-de-gozar. E eu não acho, não acho, não acho.
Eu procuro um coitado qualquer e o coloco no mais alto patamar do meu coração, e então projeto nele tudo isso que eu sou, e fecho os olhos para todas as imperfeições que ele jamais ousaria ter, e aí pronto, nasce uma projeção de mim mesma, um apêndice do meu próprio corpo, e parece até que já vivemos juntos desde sempre, e que pelo simples fato de eu tê-lo escolhido, ele já tivesse pré determinado a me amar. Mas geralmente é só sexo, ou um relacionamento já fadado ao fracasso. E então esse apêndice inflama, numa apendicite que dói, dói e dói; e aí é preciso uma incisão cirúrgica, e esse pedaço de mim me é retirado sem a minha permissão. Oh pedaço de mim, oh metade amputada de mim, leva o que há de mim.. E leva. Leva tudo o que há de mim. E então eu tenho que me reinventar, e procurar outra forma de projetar tudo isso que eu preciso pra viver. E faz falta, muita falta.
Seis e meia,meu Deus; preciso de café.

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