sábado, 17 de outubro de 2009

e eu me pergunto o que é que eu tenho feito com a minha vida. Enclausurada em livros e música; encapsulada nesse berço esplêndido de poesia barata, de literatura moderna.
Eu queria mesmo era saber o que eu espero dessa vida que me deram; desse presente que eu não pedi, e que eu não canso de me deleitar, e de sorver cada minuto de ácida alegria, cada gota mágica de felicidade.
Realmente tenho pensado muito no que eu quero e no que eu poderia ser se quisesse menos; se eu não desejasse tanto, se essa lascívia de viver e de querer não me perturbasse tanto. Eu queria a paz dos dias calmos, o silêncio da casa da praia, o sol de fim de tarde do meu jardim. Mas eu vivo perambulando por aí procurando não me ver no rosto das faces alheias, voando alto, e sempre sem limite. Eu quero muito, e isso é pouco demais pra mim.
Ainda é cedo, e ainda tem muita noite pra atravessar em claro; ainda há muito o que escrever. Eu queria mesmo era não escrever, e ver como é que meu corpo suportaria tanto sentir. Queria saber o que é que as minhas mãos fariam se não massageassem as palavras; o que é que os meus olhos olhariam se não chorassem as frases.
Acho que estamos quase no verão, e geralmente faz aquele tempinho gostoso de sol no céu e ventinho gelado no rosto; o que passa a ligeira impressão de bem estar. E por detrás desse clima tão limpo, escondemos nossas fraquezas no dia-a-dia de cada dia; e nos esforçamos para não parecermos fracos demais, ingênuos demais, prolixos demais, humanos demais. E nos fantasiamos todos de gesso e concreto, e seguimos ilesos nosso caminho nessa vida podre sem poesia.
Ainda há tempo, eu sei que há. Eu quero tanta coisa da vida.. E mesmo que eu quisesse tanto assim, não posso me despir desse veludo quente que me protege desse zunido urbano; não posso me desapegar desse alter ego que me olha tão sisudamente do espelho.
O mundo é bão, Sebastião. É sim, eu sei que é; mas poesia, poesia meu bem, é só pra quem tem coragem de ir além.

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